abismo entre teoria e prática é um perigo na mídia social

31 01 2009

Fui atendido por uma simpática senhora numa loja para produtos ortopédicos na semana passada. Ela reclamava do peso acumulado, muito acima do esperado para sua estatura. Na boa vontade em me envolver no diálogo, fiz as perguntas básicas sobre o seu consumo médio de açúcar, frituras, carboidratos…depois redirecionei a prosa para diabetes, tireóide e disfunção cardiovascular. Concluímos alguns cenários e, no final, fiquei realmente impressionado pelo profundo conhecimento da atendente. Ela sabia tudo sobre dietas e doenças causadas pelo excesso de peso. Antes de partir, no finalzinho da conversa ela confessou: “sei de tudo, mas na prática eu me esforço pouco para experimentar as teorias.”

É comum eu conversar com pessoas que vivem a mesma situação quando se referem às mídias sociais. A farta informação disponível sobre o tema faz com que alguns assíduos leitores tenham a falsa impressão de que conhecimento representa experiência, quando na verdade não é. Já passei por esta fase também por uns dois anos. Leva tempo.

Quando eu encontro essas pessoas por aí e entro mais firme no assunto, chego a escutar: “eu já fiz meu perfil aqui, ali e acolá no Orkut, Facebook e Linkedin, mas reúno poucos contatos. Tenho até um blog…entretanto percebo poucos seguidores e recebo raramente comentários em meus posts”. Pior é quando a pessoa já leu de tudo sobre os “gurus”, mas, na prática, não passou de discussões em rodas de conversas. Aí surgem expressões como “mais do mesmo”, “falou e não disse nada” e outras mais. Certo ou errado, cada cabeça uma sentença. E não coloco isso em discussão.

Meu papel, com este blog, é relatar o que venho aprendendo, tanto na teoria quanto na prática. Confesso que a prática tem sido intensa, numa média de 16 horas diárias.

Excesso de teoria incomoda? Então tente a prática: eu não tenho vergonha de estar desinformado sobre algumas coisas desse mundo. E não falo que sei só para fazer bonito para os outros. Entendi que o melhor caminho é:

  • tomar contato com as novidades;
  • me identificar com as coisas para adotá-las;
  • entrar de cabeça no que acredito;
  • experimentar na prática;
  • escolher e analisar resultados sempre.

Faça seu short list: quem, no início, quiser experimentar 100% de tudo um pouco que brota na web, pode parar no hospício, ou será o chato da roda de conversa, ou ainda poder fazer concorrência para aquele programa diário A Voz do Brasil. É praticamente impossível um ser humano disponibilizar de tanto tempo para dedicar-se às milhares de novidades e produzir conteúdo de qualidade para tanto.

A linguagem é diferente. Não insista: esse é um ponto crítico, pois as pessoas conversam de uma forma no mundo tradicional e adotam uma nova linguagem no mundo da mídia social. Me refiro a tags, links, textos de chamadas, perfís, formas de atrair e integrar os canais de formas interessante. Me considero neste estágio e descubro novidades a cada momento e que nada está desconectado do mundo profissional onde vivo inserido.

O prazer gera a disciplina: dá para listar de bate-pronto quantas coisas nós fazemos por obrigação. No mundo das mídias sociais, a endorfina deve estar ativa e o preconceito no menor volume possível. Sendo assim, dá para misturar trabalho, lazer e prazer a qualquer hora do dia. E aí vai encarar?


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17 responses

31 01 2009
Eduardo Vasques

Oi Mario, tudo bem?
Não sei se esse post foi uma indireta ao que escrevi sobre o Campus Party, mas vou encarar apenas como uma coincidência. Na verdade acho que temos a mesma linha de raciocínio. Ninguém tem uma fórmula pronta – e creio que isso nem aparecerá com o tempo. É tudo experimentação pura, risco de dar certo e errado. Tomar um tombo, levantar e começar de novo. Estamos, nessa nova fase do relacionamento no mundo digital, aprendendo diariamente. Na minha visão, as práticas ainda são poucas porque o próprio mercado ainda não comprou a idéia e não está pronto para a transparência com seus diversos públicos. Elas apenas começaram a aparecer e o resultado ainda é difícil porque ninguém sabe exatamente em que lugar isso vai dar.

31 01 2009
msoma

Edu. Não sou de escrever para as pessoas de forma indireta. Com você eu nem preciso mesmo, até porque nos conhecemos de longa data. Registrei aquilo que tenho vivido. Sobre o que vc escreveu a respeito da Campus Party, eu concordo e deixei minha opinião em forma de comentário. Agora, fora da Campus Party ocorre exatamente o que expressei no meu “quase diariamente”. São pessoas do mundo corporativo que estudam muito e repetem que midia social se resume a blogs e redes sociais. “Parece que nada muda. Tudo gira em torno de poucas coisas”. E quando eu explico, ainda ouço: “isso é coisa para adolescente. No mundo corporativo isso não se aplica”. Aí vem os comentários: “falou, falou e não disse nada”, sendo que lá no fundo o pensamento é; “como esses blogueiros vão interferir na minha marca?”. Isto porque essas pessoas simplesmente não querem mudar. Querem ficar no conforto do ambiente atual “de domínio”. Novidade realmente incomoda e inovação (que não se restringe a novidade) ainda mais. Como te disse lá no “Pérolas”, ainda teremos muita oportunidade para discutirmos casos reais, além dos conceitos básicos.

2 02 2009
Allan

E aí, tranquilo?
Vou escrever sobre o PR 2.0, daí precisarei de informações, assim que eu começar te aviso, obrigado.

Foi falado sobre isso na cparty né?

2 02 2009
msoma

Allan, foi sim. Estou à disposição. Valeu a passagem.

3 02 2009
Leandro Medeiros

Mário, muito bom isso!! Ainda bem que ainda existem executivos com a cabeça mais aberta!! Ao menos é o que todos nós esperamos!

3 02 2009
msoma

Leandro,
É verdade, bom mesmo. Mas como bem disse o Eduardo Vasques, as experiências vão depender de muitos erros e acertos. Aqueles que aprenderem com os erros se darão melhor. abs.

7 02 2009
Tine Araujo

Você sabe que não sou Analista de Mídias Sociais, mas aprendo muito com seus textos… este ano comecei deletando tudo e todos com quem não interajo e seguindo seu maravilhoso conselho sigo tentando separar: trabalho, lazer e prazer de forma a sentir a menor culpa possível pelas minhas simples, sinceras e desinteresseiras ações para viver bem neste meio.

Beijos

7 02 2009
msoma

Tine, não se subestime, afinal o que é um Analista de Mídias Sociais? Trabalho com jornalistas, publicitários, veterinário, engenheiros… Vc se interessa e experimenta os canais sociais com bons resultados muito bem medidos, pela sua vocação em estatística, certo? Prova disso é que já tem noção do que serve ou não para sua vida. Continue trilhando suas experiências, pois eu é que aprendo com nossas conversas. Bjs.

8 02 2009
gilberto pavoni junior

Analista de mídia social (citado pela Tine) é um cargo operacional. Se eles souberem muita teoria, ótimo. Já os consultores de mídias sociais é que, ao meu ver, caem nessa armadilha de serem seduzidos pela retórica e não pelo empirismo.
Muitos são bons em alguma coisa, geralmente tecnologia. Poucos, pouquíssimos, são bons em comunicação. Raros são os que entendem processos e cultura corporativos.
Para a tal RP 2.0 isso é essencial.
O problema é que muitos… não! Quase todos. Por saberem tecnologia, não escutam quem sabe comunicação e cultura corporativa.
Uma das saídas é fazer o que vc e outros profissionais que se conta nos dedos da mão fazem: colocar a tech onde necessita inteligência pra tech, comunicação desde a estratégia e envolver tudo na cultura do cliente.

8 02 2009
msoma

Gilberto, aprendi o seguinte, nessa jornada que vc está acompanhando desde o nosso evento de lançamento:
– É necessário entender a expertise de cada um e saber balancear a equipe num projeto para que ele tenha sucesso ou mínimo de risco. Quem acha que sabe mais do que o outro, realmente está perdido;
– Como vc bem disse, entender a cultura corporativa é crítico. Entender do negócio de cada cliente também é.
– Quando o projeto baseia-se somente em tecnologia ou somente em comunicação tende a fracassar. Nesse caso, o grande desafio é fazer uma empresa entender a cultura da comunicação “social”, que atrai e não empurra. “Estou pagando, por que eu preciso atrair?” ou “Eu entendo mais da minha oferta do que o mercado. Então, para que perguntar o que eles precisam se eu já sei?”
Como sempre, seus pensamentos e conclusões agregam muito a este mundo. Obrigado pela contribuição, pois sempre tivemos papos bons. Você é um dos caras que eu admiro e respeito muito!

18 02 2009
Augusto Pinto

Mário, muito legal esse seu post. Realmente o abismo existente entre teoria e prática existe para tudo na vida, não apenas para a Social Media. Concordo plenamente sobre a importância de se testar na prática a teoria que estamos estudando. Porém, gostaria de propor uma reflexão. O mundo se divide em duas grandes categorias: generalistas e especialistas. Um não vive sem o outro e nenhum deles tem maior valor que o outro. Os generalistas tem a coragem e a energia para inovar, quebram a inércia e propõem novos caminhos, abrem as estradas, mas raramente as asfaltam (e se tentam fazê-lo, fazem mal). Já pensou se o Obama, que usa a Social Media à perfeição, resolvesse se aprofundar pra valer, experimentar, entender as meta-linguagens, etc? Ele não teria sido eleito, até porque tem outros fronts onde seu generalismo e incentivo são tão requeridos qto nas ações de Social Media de seu blog. Pense nisso.

18 02 2009
msoma

Concordo com vc Augusto. O ponto é que tem generalista que junta muita teoria e se considera especialista. E os resultados práticos, mais ainda nas mídias sociais, dependem de uma combinação de estudo + reflexão s/ preconceito + conversação + experimento + colaboração. A lógica do mundo corporativo não é a mesma das mídias sociais. E a própria prática c/ resultados não é tão compartilhada. Nem vejo maldade nisso, pois as pessoas descobrem um volume enorme de coisas diariamente e praticam tanto que se esquecem de documentar.
No caso do Obama, ele acertou por ter uma equipe formada por generalistas (onde ele pode se incluir) e especialistas bem alinhadas que apoiaram sua campanha. E, claro, por deixá-los trabalhar com visão e autonomia, sem a interferência que um político “nativo” jamais daria a uma equipe.

24 02 2009
msoma

Augusto, outro ponto importante para esta explicação, para não haver confusão, é o exemplo citado por um médico renomado, durante uma entrevista que fiz para o nosso projeto de saúde. “O maior problema que eu enfrento no dia-a-dia, mesmo sendo um dos médicos mais renomados em minha área são as pessoas que lêem de tudo na internet e chegam em meu consultório questionando minhas recomendações porque viram isto ou aquilo em algum lugar. Parecem até especialistas. Ou seja, sem entenderem o contexto, a causa ou mesmo as consequências do que foi registrado na internet, chegam a desconsiderar o meu conhecimento na área da medicina, onde tenho anos de experiência e muitos trabalhos publicados.”

23 04 2009
Vanessa Decicino

Mais uma vez, adorei seu post! Realmente, o abismo que existe entre a teoria e a prática é gigantesco. Certamente, isso ocorre devido ao medo que as pessoas possuem do desconhecido. Não o desconhecido teórico, aquele ainda longe de ser incluido no dia-a-dia, mas daquele que é vivenciado! Eu mesma que, desde a Campus Party, quando fui apresentada por você à PR. 2.0, venho estudado através de diferentes fontes sobre o assunto, ainda encontro-me diante do abismo que me separa da prática. Isso não por medo meu, mas pela falta de aceitação dos próprios clientes. Como já te disse uma vez, repito: como seria bom se todo empreendedor fosse como você! A comunicação agradeceria e muito!

27 04 2009
msoma

Vanessa, o PR 2.0 ainda é um enigma para muitos profissionais. A RMA caminhou muito na teoria e nos últimos meses vem caminhando muito no campo prático com mais projetos e laboratórios práticos. A riqueza de tudo isso está nas conclusões de cada um e na experiência vivida. Pratique bastante o que vc já leu. Use seu próprio filtro de reflexões e trilhe o seu caminho. Uma hora vc chegará lá. Aí eu espero que vc nos conte tudo OK?

1 09 2009
Cris Araujo

Nossa, você realmente falou e disse tudo! Rs! Eu tenho me aventurado nessa seara de novas tecnologias e suas mil e uma faces. Mas de fato, é complicado querer fazer e estar em tudo. Humanamente impossível. Criei para mim algumas regras, como, escrevo no meu blog ao menos ultimamente, uma vez por semana, quando consigo posto mais coisas. Twitter, uso quando tenho alguma coisa interessante a falar, não adianta eu ficar dizendo, tô com fome, sede, fui dormir ou ao banheiro porque isso não muda nem acrescenta em nada a vida de quem me segue. Até meio que evito quando quem sigo só posta esse tipo de coisa.

O que faço é tentar estar nos mais comuns sites de relacionamento, pois como auto na área de comunicação e isso é um fenõmeno inegável, tanto que empresas e Insituições importantes da sociedade estão se inserindo neste meio, preso pelo conhecimento. Tenho que saber o mínimo para sobreviver. Quem trabalha com comunicação empresarial e assessoria tem que estar atento, porque o cenário da informação está mudando completamente com as novas tecnologias. E é isso que faço para sobreviver na web 2.0.

abs. Gostei do Blog vou linká-lo com o meu.

Até!!!

1 09 2009
msoma

Cris, parabéns pela iniciativa. Segundo o mestre Interney, as pessoas que mais experimentam são as que ficam mais próximas da realidade. Abs e obrigado!

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